terça-feira, 29 de janeiro de 2019

E qual é a sua margem? - por Edmilson Lyra

Vale dizer que a culpa é da margem?
A margem de lucros, que não deixou margem à segurança?
Qual será nossa margem de tolerância?
Às margens do Rio Doce e Paraopeba, a ignorância.
À margem da sociedade, a ganância.
Qual a margem de garantia para a sobrevivência?
Vidas ficaram na margem, outras ficarão à margem.
Vidas perdidas. Vidas partidas. Nada marginal!
Que não nos sirvam pizza novamente! Não temos essa fome.
Não ficaremos às margens desse assunto.
Que Têmis construa uma barragem melhor para os sobreviventes, para que essa lama não escorra entre seus dedos.

ABRINDO O LIVRO - por ALJODE para Frederico Guilherme Jaegger

Obrigado pelo belíssimo texto, Frederico Guilherme Jaegger.

Nosso respeito e carinho.


GUARDE

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Tanto Amar - por Francisco José dos Santos (Tildé)

                         

Sem rédeas se entregar,
livre dos preconceitos.
Apenas sentir e se dar,
sem olhar qualquer defeito.

Deixar fluir o melhor
que vem da emoção,
o nosso amor bem maior
em constante vibração.

Assim as graças vamos ter,
todo o encanto que se acha,
nessa busca de tanto querer.

Bebendo da fonte sem medida,
do amor que nunca passa
e faz a vida ser bem vivida.


Tildé

domingo, 27 de janeiro de 2019

É tanta euforia que dá pena! - por Edmilson Lyra


Logo que abri o portão foi uma festa! Todos correram em minha direção, eu nunca havia passado por uma recepção tão calorosa.
Lembrei-me da plateia aplaudindo, logo após o apresentador me chamar ao palco para mais uma palestra.
Recordei-me dos abraços e congratulações em posses de cargos eletivos.
Inaugurações de unidades industriais, com a presença maciça de políticos e papagaios de pirata.
Longas conversas sobre o futuro do mercado, com todos desfilando suas experiências e autoelogios. O celular é salvador nesses momentos!
Coquetéis da mais alta qualidade atendendo a todos: profissionais, empresários e penetras, esses últimos adoram uísque de graça e boas fotos.
Mas agora a situação é outra, o alvoroço com a minha chegada, a alegria estampada em todos é comovente.
Nunca imaginei que um punhado de milho pudesse gerar tanta satisfação!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Discurso Poético - por Gercilí Barros


Discurso Poético
Muitos anos depois
Que me beijaram a boca,
É que me tornei poeta,
Eu nem percebia que minh’alma,
Agora completa,
Estava repleta de poesia.
Bem cedo deixei Manaus.
Peguei ônibus, aviões, naus...
Tentei até ser atleta.
Segui por este Brasil afora...
Vi sarampo, coqueluche, catapora,
Em Paty encontrei Sinergia.
Hoje afirmo, com muita alegria,
Que aqueles rabiscos frutificaram
E, não rola nenhum pouco de nostalgia
Dos amores que me inspiraram.
Porque quase todos eles passaram,
Apenas um ficou e, virou canção.
Digo para os que olvidaram:
Neste momento... É só emoção!


Muito Cuidado - por Gercilí Barros


         Muito Cuidado


Teus cabelos têm as ondas
Mansas de um rio;
Tua pele morena, a beleza de
Um entardecer sombrio.

Teu corpo já apresenta as
Primeiras curvas sensuais,
Que por certo, darão muito
Trabalho a seus pais.

Teus olhos ofuscam o brilho
Dos raios solares.
Os poetas te cantarão à noite
Nos bares.

Em tuas axilas breve surgirão
Os primeiros pelos;
Descobrirás então que és sensual
Da cabeça aos tornozelos.
E aí, muito cuidado,
Resista aos apelos,
Porque a sociedade
Fala pelos cotovelos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Polly (miniconto) - por Clayton Craveiro


Eu fico aqui inventando historinhas. Bois das caras pretas. Donas Chicas admiradas. Meninos Maluquinhos rondam minha cabeça enquanto escrevo. Os bois vão dormir, eu não. A criançada até fica feliz mas meus livros ficam ali largados no canto da creche. Doei alguns exemplares. 

Ligaram para mim. “Seu Ramon” Detesto que me chamem “Seu Ramon”. O “Seu” só fica bom no Jorge. Seu Jorge. São Gonçalo. O "Seu Ramon", fica parecendo que sou velho. Estou ficando, mas não preciso parecer. “O senhor pode vir buscar a Pollyana agora? Aconteceu um probleminha.” Perguntei meio assustado o que tinha acontecido. “Ela está ótima. Nada com a saúde dela. Só precisamos que o senhor venha aqui agora”.

Toquei a campainha do portão e uma dona baixinha veio atender. Se me chamam de “Seu” chamo ela de “Dona”. “Seu Ramon, por favor o senhor poderia vir conosco.” Atravessei o pátio e a Polly estava sentada sozinha numa cadeirinha de madeira numa área coberta da creche. “Oi pai !” Gritou de lá. Espalmei a mão e sussurrei abrindo a boca para a ela ler nos meus lábios “Peraí”.

Passei pelo corredor de murinho baixo e envidraçado na altura do meus ombros onde ficam as crianças pequenas. Algumas estavam deitadinhas em colchonetes descansando. Aí ! Pisei num Lego. Doeu. A sola do mocassim é fina. 

Entrei na sala dela e tinha uma mulher abaixada fazendo dengo no filho - um ruivinho com a camisa do DeadPool. “Seu Ramon, essa é a mãe do Tomás” “Dona Estela, o nome dele é Thomas” Ela caprichou com a língua na ponta dos dentes. “Seu Ramon a Pollyana tem estado impossível esses dias. Canta alto acordando as crianças menores, pega os brinquedos e não empresta para o coleguinha, rabiscou a parede do salão dizendo que era uma artista como o pai. E hoje, Seu Ramon, ela mordeu o pescoço do Tômas, coitado...” “Thomas...” Falei que podia deixar que eu ia ter uma conversa séria com ela. Imagine, fazer bagunça e ainda morder o pescoço do Tômas” “Th...”

Olhei para o chão e lá estava “As aventuras do Gato Chani”.  Era pra ser Chaninho. Rasgaram parte da capa do meu livro. 

Saí da sala e minha filha estava do lado de fora de mochilinha nas costas com as bochechas rosadas. “Dá mão” disse. Fomos para o carro. Coloquei ela no buster e prendi com o cinto. Assim que fechei minha porta ela danou a falar com aquela voz rouquinha de quem tomou gelado: “Pai, a tia Estela me colocou de castigo mas eu disse que a culpa não era minha que Tomás é bobo de galocha que só fala besteira e me empurrou aí eu mordi ele e ela disse que precisava falar com você que eu estava impossível e isso não é verdade pai, pois eu sou uma pessoa possível...” Aí eu ri. Ela não viu. Pedi que ela me dissesse o que aconteceu. "Foi ele pai. Ele falou que o seu livro é idiota que fala de um gato “escorosado” e de uma menina estúpida. Aí eu fui tomar o seu livro dele e ele puxou com força e rasgou a capa e eu disse que isso não ia ficar assim que eu ia falar com você ai ele jogou o livro em mim e e eu fui lá e mordi o pescoço dele” “Tá bom Polly. A gente conversa direito quando chegar em casa”.

Mirei no retrovisor e ela olhava lá fora. Minha filha é muito fofa.


Trecho do livro "Tô numa boa..." em elaboração.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

AMIGO - por Francisco José dos Santos (Tildé)

                                                             Amigo


Poesia de minha autoria para o amigo acadêmico Frederico Guilherme Jaeger e os demais companheiros da Academia de Letras  Joaquim Osório Duque Estrada (ALJODE) Paty do Alferes e Miguel Pereira.

É alguém que nunca incomoda.
É moda em qualquer tempo.
É presente; nunca fica passado.
É um futuro sempre iluminado.
É uma graça da maior expressão.
É a palavra que melhor define o amor.

Amigo não tem idade, sexo ou cor.
É o maior tesouro para quem o conquistou.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

GAIOLA DIANTE DA PRIMAVERA - por Guaracy Muniz Carioca


Voa pássaro tão belo que outrora pousou em frente a minha janela. Que é teu todo azul do céu, toda mata e cachoeira. Voa através da névoa e da chuva fina. Ouço o som da chuva. É a canção mais curativa que há. Vejo um arco-íris por detrás de ti.
Que posso oferecer-te ? Grãos de alpiste ressequido, um pouco de água morna,  e esta gaiola tão agorafóbica, tão exposta ao sol. Esta anilha incômoda na canela. Que posso exigir de ti? Nada.
Mas quando puder traga um ramo de oliveira para mim. Cante num galho onde eu possa contemplar-te. Deixa-me derramar sentimentos confusos em forma de lágrimas. Pode ser saudade de um sonho bom. Não te entristeças com minha tristeza. É só minha. Daqui minha única diversão é sonhar. E um dia sonhei estar voando ao teu lado. E foi maravilhoso, mas acabou.  Como posso proibir-te de saborear todas as frutas, sentir todos os perfumes de todas as flores. Interagir com outros pássaros tão livres e tão belos quanto você? É tudo o que eu mais desejo e temo, pois sou pássaro de gaiola, de asas frágeis e atrofiadas, pesado e desorientado...
Voa pássaro! Voa!
Brinca com as róseas nuvens do horizonte. Descubra o que há por detrás daquele monte. Sinta o frio das grandes altitudes e tantos caminhos de brisa e de rosa dos ventos.
Cá estarei, orando por ti, aguardando-te com novas histórias para contar do dia em que pousaste no dedo de um querubim ou de quando um tornado te desviou para um lugar desconhecido e maravilhoso.  Mas quando puder jogue por entre estas grades imagens de paisagens na forma de canção e poesia.



GUARACY MUNIZ CARIOCA

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

ABRINDO A GALERIA - por ALJODE


CÓSIMO DAMIÃO DE ÁVILA


CÓSIMO DAMIÃO DE ÁVILA

ABRINDO O LIVRO - por ALJODE


LUDWIKA PIEKUT



FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS


NILZANIRA REYES

RABANADA QUENTE (miniconto de Natal) - por Clayton Craveiro

Vinte e quatro de dezembro. Depois de algumas temporadas no hotel, era a primeira vez que a escala me favorecia. Finalmente passaria o Natal em casa. Trabalhei o dia todo. Problemas comuns: chegada de material, cartão do hóspede que não passa, troca de quarto, novas reservas para o ano novo, ordenança e governança ativas. Tudo rotina. Coisas comuns para quem lida com serviços.

"Chefe, a senhora do quinhentos e quatro não fez o checkout e as coisas dela ainda estão lá. Tentamos achá-la mas ela sumiu aqui dentro do hotel."

Subi pelo elevador e a camareira abriu a porta para mim. Sobre o sofá uma mala. Na cabeceira da cama algumas fotos ; incomuns na era do smartphone. Toca meu celular. É minha mãe perguntando se já tinha saído. São sete da noite. Olho as fotos e, na maioria delas, uma senhora, um senhor e eventualmente uma moça aparecem. Traços de felicidade, união, sorrisos, candura, cumplicidade. Vários lugares do mundo e em algumas delas num jardim, talvez o lar?

A camareira aguarda para saber o que fazer. "Junte essas coisas e coloque no depósito no primeiro andar. Anote o que tiver no formulário e deixe na recepção". Meu telefone toca novamente. "Chefe, a senhora apareceu. Está na área externa do restaurante - está sentada olhando para a praia sem falar nada". "Esquece o que eu disse, deixa tudo como está e fecha a porta".

Subi até o restaurante. Minha mãe liga novamente dizendo que Marina, minha irmã, chegou - saudades dela - e que a rabanada está quente como eu gosto. Nunca mais tinha comido a rabanada quente que minha mãe fazia quando eu era criança.

"Dona Isolda. Boa noite. A senhora está bem? Precisa de alguma coisa?" Ela permanece olhando para o horizonte. Lá, as Cagarras são manchas que quebram a linha do mar ao anoitecer. Penso na minha mãe. Ela nunca veio aqui. Ia gostar de ver o anoitecer. "Quem?" "Oi Dona Isolda?" "Quem ia gostar de ver o anoitecer?" Pensei alto sem perceber "Minha mãe. E a senhora, gosta daqui?" "Lembranças boas, Natais, viagens..." "Tem alguém lhe esperando nesse Natal? A senhora sairia hoje, me informaram na recepção..." "Minha filha, mas ela está muito longe. Outro país, outra cultura. Viajávamos muito, eu, ela, meu marido. Agora só uma lembrança, uma ligação protocolar. Lembro da árvore montada no jardim, um bom assado para ceia, rabanada quente,..." "Rabanada quente é minha preferida" "As melhores..." Sorriu. Sorrimos.

Ficamos em silêncio. Olhei os cabelos branquinhos daquela senhora, triste, mas serena, com suas reminiscências, com suas saudades. "Dona Isolda, depois de muito tempo esse é o primeiro Natal que passo em casa. Minha mãe já ligou dizendo que tem rabanada quente esperando por mim. A senhora quer ir comigo?"

Clayton Craveiro
24-12-2018