sábado, 16 de março de 2019

Tédio - por Gil Cléber



Um sino irrompe a tocar em plena tarde:
O morto da véspera
                                 abre o olho branco no caixão
E um cavalo desembesta no caminho do abismo.
O domingo
É uma capa de bronze que me pesa nos ombros,
E o tédio
                               feito uma lança
                                 trespassa-me
Como trespassou a Cristo
                                 no Monte da Caveira
                                 a lança do soldado.
O sino toca,
Plange,
Aquieta-se o dia,
O Sol é o cavalo a galope
                               na direção do poente.
Vi uma inocente sangrando à beira do caminho,
Pensei que estivesse impura
Mas o sangue vinha de seus pulmões enfermos.
Se morresse
O Inferno talvez fechasse suas portas
E cérbero pudesse enfim uivar para a Lua.



(14/06/2005; do livro "Testamento")

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